terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Transformação social e cultura juvenil

Como disse Albert Camus, para superar a angústia, nada como a revolta. Esse “revoltar”, sempre associado à juventude, nada tem a ver com sua condição biológica peculiar e tampouco é um estado de espírito.
Essa revolta é uma recusa dos muros que lhe obstaculizam o presente e o futuro. Não há outra opção para a juventude senão a de construir o presente com os olhos no futuro, porque o passado faz parte de uma história oficial, que na maioria das vezes não corresponde à realidade vivida. Mas, essa herança, que o jovem não pediu que existisse, é também o principal obstáculo para o surgimento de novas formas de expressão e convívio social típicos dos jovens. Em meio a esses confrontos, entre a tradição e a novidade, é que o jovem vai fazer suas escolhas. No contato com as diversas ideologias existentes, suscetível à mídia e aos apelos de consumo, e, na periferia, mediante a convivência com o desemprego e a violência. Mesmo nesse horizonte de incertezas surgem jovens apaixonados pela cultura, pelo esporte, pela contracultura. Não é que se dividam entre críticos e alienados. É que todos têm nas suas mais variadas formas de apego, de identidade e manifestação social, uma necessidade de externar os conflitos que sabem existir entre si e o mundo, e aqueles que dizem respeito a si mesmos. Do seio da juventude desponta o novo, como expressão concreta da realidade constantemente transformada e re-transformada. A idéia de remix, que ganhou expressão com a consolidação da figura do DJ, é um bom exemplo de como a juventude tem feito uso das tecnologias para deixar sua marca, criando novas músicas a partir de outras já conhecidas. Mas, essa operação de inventar e reinventar o mundo, que é própria de uma atitude contestadora, e que pode ser verificada no campo da música, do cinema, das artes plásticas, das artes em geral, é também objeto de desejo dos capitalistas. A indústria da cultura, de olho no lucro, se empenha em transformar as expressões contestatórias, nascidas na periferia do sistema, em novos produtos de consumo, lotando as prateleiras dos grandes supermercados de CD´s de rap e tudo aquilo que interesse à juventude. Nesse processo, vão surgindo versões domesticadas de cultura juvenil, prontas para os programas de auditório e as vitrines de shopping centers. Essa canibalização da cultura própria da juventude, essa inversão de valores promovida pelos interesses de poucos em detrimento de muitos, força a juventude a organizar-se para melhor expressar seu descontentamento diante da desigualdade e da falta de perspectivas futuras. Por isso é que, cada vez mais, surgem grupos de zine, “posses” de rap, capoeira, mas também grêmios estudantis, diretórios acadêmicos, instituições e a organização da juventude dentro dos partidos políticos. No momento em que lembramos os 40 anos de morte do líder revolucionário Che Guevara, exemplo de vida para muitos de nós, queremos refletir sobre a participação da juventude nos rumos do país, reconhecendo o importante papel que esse segmento sempre teve. Guevara fez da própria vida um exemplo a ser seguido, não só quando se aventurou a lutar pela liberdade da América Latina, mas também nos momentos em que, sendo ministro de estado, participou da colheita de cana de açúcar junto ao povo cubano. Nessa Conferência Estadual de Juventude, esperamos que as decisões tomadas reflitam aquilo que há de mais revolucionário na juventude cearense transformando-se em políticas capazes de dar conseqüência a essa vontade de mudar as coisas pra melhor. Mas, acima de tudo, que nossa mensagem sirva para alertar os jovens da necessidade de defender diariamente seus valores, fazendo do socialismo uma bandeira necessária.
Eudes Xavier é deputado federal pelo PT, foi coordenador do ProJovem Fortaleza e é integrante da Frente Parlamentar de Juventude

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