sábado, 29 de janeiro de 2011

Quando a chuva não é mais agonia

Rosa Marques e Alberto Fernandes: 28 anos depois, a frieza não incomoda mais (IGOR DE MELO)
A casa dos sonhos, às vezes, é apenas uma casa resistente. Com paredes de tijolo, saneamento básico, longe dos alagamentos, perto dos amigos. Onde se possa abrigar geladeira, fogão, mesa, cadeira e armário sem se despedir de tudo a cada inverno bravo. Não precisa reboco nem janela de vidro. As 198 famílias da antiga comunidade Maravilha, no Alto da Balança, há duas quadras chuvosas, alcançaram essa graça e desaprenderam a vigília aflita.

Viver no Conjunto Habitacional Nossa Senhora de Fátima I é um fazer as pazes. Há 33 anos casados, os aposentados Rosa Marques, 68, e Alberto Fernandes, 65, viveram 28 longos invernos debaixo d’água. “No verão, a gente dormia; no inverno, pastoreava as casas uns dos outros. Ninguém dormia”, relembra Rosa. E o friozinho? Não se tinha cabeça pra isso. E sorri, porque passou. “Hoje não dou fé da chuva. Acordo toda enrolada da frieza, mas durmo a noite toda”, conversa ela, com ares de triunfo.

“Comprei uma casa dentro do rio e coloquei Rosa pra viver lá. Você precisava ver a raiva dessa mulher quando a primeira chuva acabou com tudo”, intromete-se Alberto. A água batia no pescoço, o fogão, os móveis davam vencimento em menos de um ano. Às vezes, escapava a geladeira, porque desligavam da tomada e depois mandavam pro conserto. Mas isso hoje é história contada com risada alta.

A casa da Rosa é toda enfeitada de santos e flores. A da vizinha Francisca Onorato, 62, tem umas cortinas vermelhas entre sala e quartos. Nos cômodos pequenos, o apuro simples da dona de casa: quadros, rendas, miudezas e limpeza. “Esse é o meu palácio”, orgulha-se Francisca, depois de quase 50 anos dividindo um único cômodo com os dois filhos. Sem piso, sem forro, sem privacidade. Nos invernos, alagado e cheio de goteira.

Novas gerações
Os pingos da chuva hoje encantam a diarista Zenaide da Silva, 47. Foram 19 anos intrigada com a água. Corria a pendurar os bens no teto, deixar os filhos do abrigo improvisado da escola local e entrar no trabalho com a roupa encharcada e o pensamento preso no barraco. “Era assim com todo mundo. Fiz uma jura de só comprar minhas coisinhas quando tivesse onde botar”, emenda Rosa.

Em casa de tijolo exposto, Francisca vive com três gerações de familiares. Quando mima o neto João, quatro meses de brancura e bochecha, a mulher lembra a época dos filhos com a mesma idade. E suspira: “Era outra vida. Tinha deles que chorava assustado. Eu saía pra salvar as coisas, eles gritavam com medo de eu me afogar”.

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA
Dormir abrigado da chuva sem medo de ter a casa arrasada pela água é desejo alcançado por 16 extintas áreas de risco em Fortaleza. Desde 2009, as famílias do Conjunto Nossa Senhora de Fátima fizeram as pazes com a chuva.
SAIBA MAIS

Até a metade do ano, correndo tudo conforme planejado pela Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), a área de risco da comunidade Maravilha estará erradicada.

Antes da intervenção da Prefeitura, a comunidade abrigava 606 famílias em barracos e apartamentos construídos pela Igreja Católica. Taipa ou cimento, alagava com a menor chuva. Os moradores viviam à beira do canal.

Em 2008, começou a entrega dos quatro Conjuntos Habitacionais: os Nossa Senhora de Fátima I, II e III e o Planalto Universo. Esse último, a duas quadras da beira do canal, foi o primeiro a ser entregue e beneficiou 144 famílias.

No Nossa Senhora de Fátima I, do outro lado da BR-116, 198 núcleos familiares foram abrigados. O Nossa Senhora de Fátima II é composto por 144 apartamentos. O Nossa Senhora III hoje comporta 60 casas, com 30 mais por entregar ainda este semestre.

Janaína Brás
janainabras@opovo.com.br

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O POVO Online | Pré-Carnaval de Fortaleza Notícia

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Quase 2 mil homens formam efetivo de esquema montado para Pré-Carnaval de Fortaleza

Um efetivo de pelo menos 1600 homens vai organizar o esquema montado pela Prefeitura de Fortaleza durante os desfiles de blocos do Pré-Carnaval de capital cearense. Segundo os números apresentados nesta segunda-feira, 24, pela Prefeitura, para garantir a segurança dos foliões, a Guarda Municipal de Fortaleza vai dispor de 971 guardas municipais nas ruas às sextas, sábados e domingos, até o último fim-de-semana que antecede o Carnaval oficial.

Além dos guardas municipais, o efetivo contará com 100 agentes da Etufor, 120 agentes de trânsito da AMC, 505 garis e uma equipe com 35 médicos de plantão no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro da Capital.

A operação deverá acontecer das 13h às 23h (horário previsto para o término dos desfiles dos blocos), com os guardas municipais distribuídos prioritariamente em bairros com maior concentração de foliões, como Praia de Iracema, Benfica, Centro, Vila Pery, Vila Manoel Sátiro e Rodolfo Teófilo.

Ainda de acordo com a Prefeitura, a Operação Pré-Carnaval contará ainda com o apoio de componentes do Pelotão de Salvamento Aquático na Praia de Iracema (para prevenir e atuar em caso de afogamentos), do Pelotão Especial, da Ronda Preventiva Escolar, Pelotão de Guarda Comunitária e Unidade Operacional Patrimonial.

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O POVO Online | Pré-Carnaval de Fortaleza Notícia

domingo, 9 de janeiro de 2011

Casamento gay entra na pauta do STF

Casamento gay entra na pauta do STF

“O ministro Carlos Ayres Britto (STF) está trabalhando nas férias para concluir o seu voto sobre uma dessas questões que mexem bastante com a opinião pública: o reconhecimento jurídico da união homossexual. Ayres Britto, relator da ação movida pelo governador Sérgio Cabral, entrega em fevereiro suas considerações, de cerca de trinta páginas, ao presidente do Supremo, Cezar Peluso.

A partir daí, já se pode marcar a data da votação. Embora Ayres Britto não revele seu voto, há uma quase unanimidade entre seus pares: será favorável à união homossexual.”

(Veja Online)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PT SÃO PAULO: “Caso” Battisti: Eis por que estamos com Lula

PT SÃO PAULO: “Caso” Battisti: Eis por que estamos com Lula: "“Caso” Battisti: Eis por que estamos com Lula.

Um grupo de intelectuais italianos radicados na França lançou na última terça-feira (4) documento apoiando a decisão do Brasil de não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti e desmascarando os argumentos do governo ditreitista de Sílvio Berlusconi.
Por Uninomade.org
Quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Somos um certo número de italianos residentes no exterior, onde trabalhamos no ensino e na pesquisa, estupefatos com a postura da mídia e da “opinião pública” do nosso país diante do “caso” Cesare Battisti. A jornalista Anais Ginori, em La Reppublica de 2 de janeiro, parece por exemplo estigmatizar o “júbilo dos intelectuais franceses” (arbitrariamente identificados com Bernard-Henri Lévy e Fred Vargas) diante da recusa de extraditar Battisti, decidida pelo presidente brasileiro Lula da Silva.

Quanto à força de oposição ao atual governo Berlusconi, estamos particularmente surpresos ao constatar como alguns parlamentares do PD se recordam repentinamente de sua matriz ideológica, apelando inesperadamente ao presidente Lula enquanto “homem de esquerda”, com o único propósito de questionar seu gesto de precaução em relação aos direitos de um preso.

Contrariamente ao que se tem escrito e dito, nós acreditamos que a decisão de competência do presidente brasileiro não é resultado de um juízo superficial e apressado sobre nosso país, mas resultado de uma avaliação aprofundada e pertinente da situação política e judiciária italiana. O Brasil é o último de uma longa lista de países, após Grécia, Suíça, França, Grã Bretanha, Canadá, Argentina, Nicarágua, que se recusaram a colaborar com a justiça italiana. Será um acaso?

Na verdade, a fúria do governo italiano em pedir a extradição de Battisti se configura hoje mais como a vontade de exorcizar um inimigo vencido (quase uma obsessão de eliminar), do que como uma sóbria, autêntica exigência de justiça. Surpreendente, em particular, uma tal perseverança “justiceira” da parte de um executivo tragicamente incapaz de lançar luz sobre a carnificina dos anos sessenta e setenta, unanimimente considerada pelos historiadores como a “mãe” de todo o terrorismo.

Recordemos como em seu favor o “zero responsáveis” sobre o atentado da Praça Fontana em Milão e da Praça de Loggia em Brescia tem sido permanentemente consagrado, respectivamente pela Suprema Corte em 3 de maio de 2005 e, mais recentemente, pela Corte de Inquérito em 16 de novembro de 2010. Ou uma magistratura severa que garante a imparcialidade do Estado, como sugerido recentemente por Alberto Asor Rosa[1] em uma de suas freqüentes colunas no Manifesto!

Uma tal diferença de tratamento em investigar a responsabilidade, que não tem como não saltar aos olhos da opinião pública internacional, não é apenas o efeito de uma permanência endêmica, na Itália, de uma classe corrupta no governo ou mesmo para-fascista (de Alemanno, ex-membro de esquadra fascista, prefeito de Roma, ao insolente ex-MSI [2] La Russa, Ministro da Defesa). Não, essa tara originária é antes de tudo fruto da política de emergência que tem sido o leitmotiv da política italiana do pós-guerra e na qual a esquerda se deixa seduzir, até a morte rápida como uma fatalidade, quando não tranqüilamente acomodada, por uma consolidada incapacidade de propor uma alternativa global a uma ordem capitalista tardia.

Essa “emergência” prolongada foi a base da participação de setores inteiros do Estado nas atrocidades criminais que ensanguentaram o passado recente da história nacional, impedindo a emancipação social e debilitando antropologicamente, molecularmente, a cotidianidade. Fato altamente significativo, a classe política atualmente no comando na Itália é herdeira direta desses poderes um dia ocultos (“Piano solo”, “Gládio”, “P2” [3]), mas agora definitivamente desembaraçada e bem decidida a ocupar o terreno político e midiático, para defender seu próprio interesse vital ameaçado: aquele de uma vida reduzida a uma pura, absurda axiomática empresarial.

A “anomalia italiana” não é senão o resultado dessa sistemática subordinação dos órgãos garantidores do direito à “exceção” do comando político e ao seu diktat selvagem sobre a consciência. Basta pensar que um dos mais altos postos da República, abaixo apenas do presidente Giorgio Napolitano, é hoje confiado a um “magnata” da mídia cuja “acumulação primitiva”, no curso dos anos sessenta e setenta, tem sido caracterizada por aqueles que a definiram eufemisticamente como “ilegalmente comprovada”.

Portanto, acreditamos que o forte envolvimento do Estado italiano na guerra civil “guerreada” que teve lugar na Itália nos anos setenta, paralelamente ao conflito (não somente e nem sempre “frio”) encenado pelos dois blocos internacionais opostos e parcialmente especulares, torna impossível desatar o nó histórico emerso com o “caso” Battisti no quadro das instituições e das leis atualmente vigentes na Itália. Somente uma medida que reconheça a enorme responsabilidade do Estado na degeneração do embate político entre os anos sessenta e oitenta, e não a grotesca exibição de orgulho nacional a que estamos assistindo nesses dias, pode permitir à Itália sair do “déficit” de credibilidade internacional que danifica fatalmente sua imagem. Enquanto tal medida não se concretizar, justiça não poderá ser feita e o pedido de extradição de ex-terroristas aparecerá fatalmente como atalhos vexatórios, quando não como tentativas mentirosas de reescrever a história.


Saverio Ansaldi – Universidade de Montpellier III
Carlo Arcuri – Universidade de Amiens
Giorgio Passerone – Universidade de Lille III
Luca Salza– Universidade de Lille III.

Notas
[1] Alberto Asor Rosa é um intelectual conhecido na esquerda italiana desde os anos sessenta. No final dos anos setenta, como quadro do Partido Comunista Italiano, defendia posições teóricas que buscavam se contrapor ao protagonismo nas lutas sociais dos sujeitos políticos dos quais Cesare Battisti fazia parte. Vide sua teoria da “primeira” e “segunda sociedade”. (N. do T.)
[2] Partido formado no pós-guerra por aderentes do fascismo. Foi na prática o partido fascista italiano até sua dissolução na Aliança Nacional em 1995. (N. do T.).
[3] Gladio era o nome de uma operação clandestina da Otan no pós-guerra, com objetivos anti-comunistas. Entre suas ações estavam atentados como a chamada “bandeira trocada”. P2 era uma loja maçônica, envolvida com a Operação Gladio, com a máfia e em escândalos financeiros. O ‘Piano solo’ foi um plano no qual a Gladio esteve envolvida e que conseguiu tirar do governo italiano os ministros socialistas, em 1964. (N. do T.).

Fonte: Uninomade.org
Traduzido do italiano (O Vermelho)